sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A moda do AMARELO...

Como prometi que iria contar-vos algumas das histórias do Solipa, e de todos nós, atrevo-me, entre amigos, a iniciar esta aventura com uma em que foi cedido o papel de protagonista. Acresce ainda que, temporalmente, é precisamente começar pelo princípio, pelo que faço o seu enquadramento, alargando o leque a outros actores, muito embora com papéis secundários, mas não menos importantes pelo suporte que concederam ao actor.
Estávamos no ano de 1982 e o amarelo constava das cores eleitas para a moda do Outono/Inverno. E eu, como sempre apreciei a agora chamada fashion, precavi-me em S. Miguel, e levei na bagagem uma camisola de lã e uns sapatos nesta cor. E imaginem, a esta distância de tempo, o que eu também não imaginava na altura, para ir para a Terra Chã!
Chegada ao destino, lembro-me de haver uma grande euforia e azáfama à volta dos novos calouros, ou melhor dizendo, das caloiras, porque, naquela altura, não abundavam os elementos femininos. E era vê-los, atarefados, a entrar e sair do lar feminino, na nobre tarefa de classificação dos exemplares recém-chegados.
E era na célebre cantina, durante as refeições, que a Academia se reunia e podia analisar, com maior precisão e acuidade, e discutir questões de pormenor.
O Sr. Presidente, sabedor, sentava-se nas mesas do fundo. Ficava com uma vista privilegiada e assistia, com entusiasmo comedido, a tão minucioso trabalho. Os restantes, dos anos anteriores, iam-se distribuindo, conforme as suas preferências e interesses.
Cabia ao Solipa, a transmissão de algumas considerações à Academia. E, na sua mesa, havia sempre quem o coadjuvasse (Nija, Menano, Bigodes, Rafael, Manaças, Gongo, Tó Zé “de Portalegre”…) na difícil arte de bem representar monólogos, que, sempre concentrado e assim que a porta da cantina se abria e surgia uma menina, iniciava o seu discurso, em voz alta e bem projectada.
E quando a Néné entrava, eis que encarnava, na perfeição, a voz de uma cabra e dizia tão produzido texto:
- Né…né! Né…né! Né…né! – e repetia vezes sem conta.
Decorrido pouco tempo, para se as dúvidas se dissipassem, ouvia-se os mesmos berros!
Lembro-me de, um dia, estar vestida de AMARELO e de, ao iniciar os primeiros passos na entrada da cantina, escutar a seguinte frase:
- O cantar deste melro já comeu muita minhoca! – pronunciada, com ênfase, pelo actor.
Devo dizer que, fiquei atónita, gélida, sem perceber tão elaborado texto, sem saber como reagir …
Sei que continuei o meu percurso, e, mesmo sabendo que era a protagonista daquele take, entendi que o monólogo se deveria manter inalterável.
E enquanto comia, os takes eram repetidos e repetidos, qual busca do take perfeito.
E, sempre que eu me vestia de AMARELO, o meu colega de então, que nem me conhecia, lá palrava a mesma frase.
Devo confessar que ainda me dei ao trabalho de tentar compreender tão estranha afirmação, melhor dizendo, insinuação, que me tinha sido dirigida!
Apenas cheguei à conclusão que o AMARELO lhe lembrava um melro.
Hoje, como muitos da Academia são conhecedores, esta frase consta da lista das suas célebres citações!
E, ainda esta semana, numa conversa telefónica, quando lhe perguntei se ele se lembrava do que me dizia, de imediato a parafraseou, com a mesma cadência e ênfase, como se o tempo não tivesse passado!

ERA ESSE O ESPÍRITO QUE NOS UNIA E É ESTE O ESPÍRITO QUE NOS UNE!

11 comentários:

Anónimo disse...

Pois é Graciete...aquela cantina no inicio era a "montra". Até mesmo para uns engenheiros professores doutores que tambem lá jantavam...iam fazer uma pesquisa de mercado...
Da Néné ninguem sabe??Bela jogadora de Voley..alias ela e a Ana Rosa, se bem me lembro eram as únicas que acertavam na bola. Os pobres do nossos treinadores bem que se esforçavam , Carlos Vouzela e Carlos Martinho, mas o pessoal era um bocado dificil. Era cada cabazada com as Geitosas da Praia , que agente saía de lado com o 3-0. Esse pessoal que entra e sai do blogue..e não comenta..não passou pela Terra Chã..???
Dina

Graciete disse...

Dina, tens toda a razão! Algum pessoal estás no "corte". Só espreitar e nada a dizer! Têm medo do passado? ou dos comentários?...sei lá! Eu cá, as contas que tinha a prestar já as prestei e foi aos meus PAIS. Qto ao resto, só me arrependo do que NÃO FIZ!
Bjs

AAACAUA disse...

"O Sr. Presidente, sabedor, sentava-se nas mesas do fundo"
Eu?!!! Eu não fiz nada!
Fui sempre tão certinho, uma mosca morta, tão tímido...
...é injusto!
Bjs
JM

Graciete disse...

Tadinho... do Sr. Presidente com tamanha injustiça que cometi!
Estou com a minha consciência pesadíssima!!!
Tens toda a razão!!!...
A "timidez"...sempre te perseguiu e inibiu!
E era por isso que ficavas "nas mesas do fundo"...
Bjs

Teresa Valdiviesso disse...

Graciete,
LINDO, adorei a história... E olha queo Amarelo está outra vez na moda! Tens de repetir o modelito na próxima reunião para os TESTAR..
Beijinhos

Graciete disse...

Teresa,
Gostei imenso do teu comentário!
Sabes, MUITOS...sabem da "história", apenas relembrei...
Olha para mim na foto ao lado!!!
Felizmente que o ACTOR não andava por estas paragens, mas se cá estivesse, também não havia problema!
O DCA nasceu connosco!!!
... e CRESCEU com MUITOS que tb fizeram parte de muitas histórias como esta!!!
Faço como tu e recomendo uma vista ao link:
http://www.dca.uac.pt/
Felicito-te pala tua participação e aproveito para dizer-te que gosto muito de ler os teus comentários.
Beijinhos

Anónimo disse...

Que memórias Graciete, ao ler a tua historia quase me senti sentado naquelas mesas da cantina a viver aquilo que voçês bem descreveram e tantas outras historias que vêm à memória e além disso como sendo dos primeiros a memória de como muitas das "actuações" se iniciaram (um dia com mais tempo temos de as contar, a ver se com a ajuda do Pedro TAP,do Tó Canedo e do Rochinha a Fonte Faneca, Canada da Francesa se faz mostrar).
A tua frase final é a ideia que eu próprio e o nosso presidente já tinha-mos cruzado em recente conversa telefónica, comentando o sucesso do nosso recente almoço, só quem viveu de forma tão intensa e unida aqueles tempos da Terra Chã pode, depois de de mais de 20 anos, encontrar-se e ter a impressão que foi no dia anterior que te tihnas despedido.
um beijinho e parabens pelas "postagens", tuas e da Teresa.
Dina e o Barbosa? quando nos brinda com o seu humor requintado recordando enter outras a mais longa garraiada do mundo?
beijinhos e abraços
Manel

Graciete disse...

Manuel,
Tu também lá estavas, mas meigo com as meninas, que as presenteavas com beijinhos!
Quando estava a escrever, lembrei-me dos "actores" que entravam e saiam do lar feminino (Tó Canedo, Pedro "Tap", Nuno "Grande", Chico "General", Manelinho,...);eram sempre os primeiros e depois seguiam-se OUTROS...
Estou neste BLOG com este espírito e é para estes que partilho os momentos que fizeram parte da História do DCA.
Fico feliz por te ter feito recuar 25 anos!
Beijinhos

Anónimo disse...

É interessante notar que a cantina continuou ao longos dos anos a ser a tal "montra", e que chegar às mesas do fundo era um objectivo, como fazer mais uma cadeira.
E penso até, qua alguns genes deveriam ser passados através das cadeiras, pois o filho do Manaças, o Guilherme, que comia juntamente connosco, quando chegava as caloiras ficava transtornado. Tenho pena, de na altura, não existir a tecnologia actual, para registar aqueles momentos e vos poder mostrar agora. Quando entrava uma caloira, ele parava de comer, olhava, e se lhe interessava, os seus olhos seguiam-na até ao recolher do tabuleiro.O Manaças se ler isto, vai ficar todo babado, mas ao Pedro, desculpa lá, mas naquela idade não podia ser só ensinado por ti! Está provado, só podia ser efeito dos que continuavam a pairar em espírito pela cantina!

Pedro Manaças disse...

Espero que o Guilherme esteja a fazer o mesmo agora lá na Faculdade, chegada que está a vez dele...
Tou velho.......

Graciete disse...

Tás mesmo velho...
Nem um comentariozinho fizeste a esta postagem!!! Também andavas por lá...Então?
Estou a ver que tenho de avivar-te a memória!!!
Beijinhos

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