quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

FAZ HOJE 30 ANOS QUE...


          Imagem do horário retirada daqui.............................................Imagem do avião retirada daqui


Dia 07 de Janeiro de 1980, segunda-feira. Era madrugada, por volta das três horas, acordei cheio de frio, o corpo dorido e bastante assustado. Por breves instantes devo ter adormecido, acordei estremunhado, mas a mala estava no mesmo sítio. Havia tanta gente naquela sala de espera, uma barulheira, por instantes não sabia onde estava, mas lá me recompus. O pequeno aeroporto estava à pinha. Ajeitei os cabelos, passei os dedos pelos olhos para retirar as remelas e fiquei a observar. Havia ali de tudo, novos e velhos, magros e gordos, feias e ... – olha que moça tão bonita!-- e ela também olhava para mim, e os dois trocámos olhares, vezes sem fim, quase paralisei. As coisas boas duram pouco, abriu-se a porta de embarque e lá foram todos embora, e a moça bonita também. Agarrei no meu caderno de notas e registei o momento, foi o meu primeiro poema em terras açorianas.

No teu olhar atento
Conservo a minha expectativa
Nesta noite ao relento
À espera da tua iniciativa.

E ao analisar
Esse teu olhar distante
Preocupa-me a todo o instante
O modo fácil de o cativar.

Agora que o cativei
Derreteu-se todo o gelo
Da expectativa
E já pensei
Facilmente como esquecê-lo.

Levantei-me, fui ao bar tomar um café e fumar um cigarro. Naquela altura eu fumava SG Gigante e já estava a acabar. Olhei para o mostruário do tabaco mas não encontrei a minha marca. Eram só marcas de tabaco estranhas, Boa Viagem, Além Mar, Apolo 20, nunca tinha ouvi falar naquele tabaco. Lá me explicaram que eram marcas dos Açores e não se comercializava SG nas ilhas. Pedi um parecido com o meu, e o rapaz sugeriu-me o Apolo 20 que, dizia ele, era dos mais suaves. Abri o maço, dei umas baforadas e quase me engasguei, tossi como um louco! O moço tinha-me dito que era dos mais suaves, imaginem os outros!
O céu clareava, a alvorada permitiu-me ver, finalmente, a paisagem da ilha, montes altos cobertos de pasto verde, vários tons de verde pintados naquelas encostas recortadas por pequenos muros de pedra negra onde pastavam algumas vacas. Aqui e ali umas hortênsias, uma névoa, mas sobretudo uma imensa tranquilidade rodeada pelo imenso oceano azul. A minha primeira impressão sobre a Ilha de Santa Maria foi a imensidão dos elementos e o impacto que causavam na minha presença insignificante. Começava a gostar dos Açores.
Ouvi e vi aterrar um pequeno avião a hélice mas, nem liguei. Puxava de outro cigarro quando fui interrompido pelos altifalantes que anunciavam o embarque no voo da SATA. Não me tinha apercebido da chegada do avião da SATA. Corri a perguntar se era mesmo o meu voo, disseram-me que sim, atónito perguntei –naquela avioneta?— corrigiram-me, era um avião Avro, bimotor com capacidade para 22 passageiros. Encolhi os ombros resignado.
Já dentro do pequeno avião, completamente lotado, num lugar junto à janela sobre as asas, benzi-me e sorri para o companheiro do lado. Com o avião já na pista, parado e com os motores no máximo, a cabine tremia, era uma barulheira que nem se percebia a voz da hospedeira a anunciar o início do voo. Fiz-me valente, sorri, ao mesmo tempo agarrei-me com força aos braços da cadeira e comecei a trautear – indo eu , indo eu, a caminho de Viseu— nisto o bicho levanta voo –ai Jesus que lá vou eu!— Valha-me Nossa Senhora d’Agrela! Estava borradinho de medo!
O bicho ia tomado altura, aos solavancos, era cada poço de ar, nem reparei na paisagem da ilha, compenetrei-me nas hélices e foi aí que reparei que os motores eram Rolls Royce. Fiquei bem mais tranquilo. Nisto sou interrompido pela hospedeira que me oferecia rebuçados numa cesta –rebuçados a esta hora?! Então e o pequeno almoço?-- o que eu fui dizer! A moça, com má cara, informou-me que naqueles aviões não se serviam refeições a bordo. Acto contínuo em vez de um, tirei três rebuçados. Um homem nunca se atrapalha, surpresas atrás de surpresas, o fundamental era sobreviver!

Faz hoje 30 anos que...continua.

5 comentários:

Luísa Benevides disse...

Não era Apolo 70, este foi o 1º Shopping de Lx! O tabaco era e, ainda, é Apolo 20, amigo!!!! lol

António Pedro Malva disse...

Luísa, Luísa...

depois de 30 anos, o homem vai buscar pormenores do arco da velha e tu não deixas passar uma! Umazinha.
Achas que a história ficava diferente se ele tivesse escrito Apolo 21? Achas que eu davamos todos pela pela diferença?

Bjs

Luísa Benevides disse...

looooooooooool
Para mim, que sou uma pequena da mesma época, faz toda a diferença!!!!!! É o meu lado perfecionista!!! ;)

Joaquim Marques AC disse...

Muito obrigado pela observação, já está corrigido.
Bjs

Graciete disse...

Marques,
Confesso que já ansiava por uma historiazinha de amor. Dão um colorido diferente!
Depois desta experiência, penso que aprendeste a não dormir...nos aeropostos, não?
Bem, sempre ficou um poema!

Para que conste, digo-te que o SG comercializava-se nesta altura em S. Miguel, embora não todos.

Logo 3 rebuçados?! Começaste logo a fazer estragos em terras Açorianas!

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