quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Quando a Academia se ENGALANAVA

Os festejos aos calouros iniciavam-se logo que estes pousavam as suas malas em terras da Terceira.
Assim que algum táxi rondava as instalações do DCA, e na entrada principal se via surgir um calouro, havia sempre quem levasse a notícia até ao bar ou às zonas circundantes, e depressa aparecia um bando, muito discretamente, a confirmar a veracidade da mesma.
E era vê-los com o nervosismo de quem vai actuar, à espera da ordem para começar.
Alguns calouros vinham acompanhados do papá ou da mamã o que, para nós, gente valente que tinha ido ao encontro do desconhecido e que não tinha tido estes luxos, era uma afronta, e considerava-se, por isso, que estes eram, sem dúvida, os meritórios mais dignos de uma recepção de “Boas Vindas”, a qual ficaria para sempre marcada na sua memória e da dos seus familiares.
Empunha-se que fossem honrosamente recebidos. Que a Academia os acolhesse e que, simultaneamente, os enaltecesse, mesmo sem tendo prestado qualquer tributo à mesma! Nem a matrícula!
Os inocentes calouros vinham sempre directamente do aeroporto. Garanto-vos!
E, depois de uma longa viagem, muitas vezes já vindos da Universidade, em de S. Miguel, onde pensavam que se situava o DCA, eram merecedores de uma sentida homenagem, AO MAIS ALTO NÍVEL, o que de mais elevado que se podia ter na altura!
E tudo era preparado ao pormenor. Havia quem organizasse, cá fora, os festejos que se seguiriam e os que, lá dentro, aguardavam ansiosamente que o calouro e o papá ou a mamã entrassem na secretária para efectuarem a matrícula, junto da D. Graça.
Mas, já éramos conhecedores de muitos procedimentos! E estes repetiam-se, sempre!
Por isso sabíamos que … a MALA … esta mesmo, ficava sempre, sempre, cá fora, no átrio!
Havia quem rapidamente a tirava do local, juntando-se depois ao bando que se dividia em tarefas, para levar a intenção a concretizar-se num curto espaço de tempo, ou seja, enquanto a D. Graça procedia à matrícula.
E era vê-los na ânsia de encontrarem as vestes pessoais do dito ou da dita, com uma avidez, por veras exagerada, diria doentia, por cuecas e soutiens!
Eram, sem dúvida, as peças preferidas, certamente por serem mais personalizadas e por denunciariam melhor e de um modo mais rápido o perfil interior do escolhido.
Depois do primeiro passo devidamente executado, dirigiam-se em linha recta, como se houvesse uma passadeira vermelha, a passo muito apressado, em direcção aos postes!
Chegados ao local, uniam com nós, de forma extremamente cuidada, as calças, as camisas, as camisolas, tendo sempre como objectivo, respeitar o ênfase das peças de lingerie e que, por isso, se repetiam, entremeadas nas restantes vestes.
Seguia-se o momento da apoteose! Em silêncio, todos assistiam, atentamente, ao cerimonial do içar de tão singular bandeira que, de tão personificada, tinha, quantas vezes, de ser dividida e alargada ao segundo poste!
E lá, no PONTO MAIS ALTO, se saudava e prestava todas as honras ao calouro, vendo-se as bandeiras a esvoaçarem, e se anunciava, também, a toda a comunidade académica, a vinda de mais um.
E a Academia ficava a admirar, ao mesmo tempo que decifrava as cores, os formatos e os pormenores das bandeiras, para a obtenção de preciosas informações que, posteriormente, seriam condignamente utilizadas nas restantes praxes do próprio.
A MALA … que me lembre, era devolvida ao seu local de origem, vazia, claro!
Não terminada ainda a cerimónia, havia sempre quem se incumbia de, de vez em quando, espreitar a porta da secretaria, a fim se registar o preciso instante em que o caloiro homenageado, embora sem a sua presença e sem direito a fazer-se representar, sairia.
Nesta fase, toda a comitiva já se encontrava com o sentido de dever cumprido e dispunha-se informalmente, com um ar deveras descontraído, mas muito discretamente expectante.
Só se encerrava o acto oficial, quando, presencialmente e condignamente, o homenageado reconhecia e anunciava as bandeiras içadas. Era o seu dever para com todos nós!
Finalmente, ouvia-se o discurso que todos ansiávamos e nas nossas caras estampava-se a alegria e o orgulho da compensa do serviço prestado.
Estava terminado, para nós!
Ao caloiro, cabia a tarefa de retirar as bandeiras e deixar os postes prontos para a recepção de outro!
E era assim que a Academia se ENGALAVA nos princípios dos anos 80.
PS: As vossas memórias "esclerosadas" não me digam que não se recordam disto!
Vou ver quem se lembra, e sei de quem por aqui anda e que também teve direito a bandeira!

20 comentários:

Dina disse...

Graciete é isso mesmo que tu disseste. Mas lembro -me de uma situação em que além do poste da bandeira se colocou um fio até à casa do engº Gago da Camara. A roupa foi sendo recolhida e quando ele chegou á porta da casa, dissemos ao caloiro, ( não me lembro quem era) que a mala estava lá dentro. Então ele bateu à porta e o Professor aparece com uma bandeja na mão e dois calices de vinho que tomou com o caloiro. Tambem da parte dos professores ( alguns) havia este espirito que aqui temos referido..

Bruma das Ilhas disse...

Amiga Graciete:
É um relato preciso do que acontecia, só que umas vezes era no mastro das bandeiras, situado à entrada do DCA e outras vezes era nas cordas da roupa das casas do bairro. Em suma, era onde fosse possível fazer uma pequena maldade, ficando as senhoras mais ofendidas e arreliadas (por causa da roupa mais íntima...)do que os senhores. Mas creio, que nos dias de hoje já todos se esqueceram do mau feitio com que ficavam, mas que dava um gozo enorme aos já veteranos, era uma verdade.
Um beijinho, Graciete

Vouzela

Michael disse...

As bandeiras eram uma prática habitual, lembro-me de 1 fotografia de 1 blogante aassidua em cima de 1 jeep a tirar as suas "brises", será ke ela se lembra e vai postar aqui a foto?

Adelaide disse...

Se eu vos contar o meu primeiro dia na Terra Chã..., mas posso desde já acrescentar que também fui das que em São Miguel andou nos serviços sociais da UA a perguntar pelas "Pastorinhas". E as Sra. muito simpática perguntava:Pastorinhas???
- Sim, um lar, uma república?Disseram-me, basta chegares lá, perguntas pelas Pastorinhas, que toda a gente sabe, eu não estou lá, mas não há problema, tem a Dina, a Isabel, a Cecília,..., pois é mas na ilha ninguém falou, por isso UA é na Capital, logo São Miguel!ah!ah!Fiz a matrícula aqui, fui tirar a micro à Ribeira Grande, porque o aparelho de Ponta Delgada estava avariado, gostei tanto, que voltei passados 6 anos...Daí a minha mala não ter sido aberta em frente ao edíficio do DCA, mas no Bairro!

Graciete disse...

Dina,
Ainda hoje me estava a lembrar de algumas com o Gago da Câmara!
E lembro-me da que contaste, que foi tudo combinado connosco, e ele de boa vontade alinhou, e despois acho que dava até uma descompustura no caloiro!
Mas ainda há mais coisas dele!
Como eram, alguns Prof., nossos amigos e por isso os recordamos hoje com muito carinho e admiração.

Graciete disse...

Vouzela,
Temos que contar como tudo começou!
Tantas vezes vi os preparativos e os mastros com bandeiras lá penduradas!
E há meninos que as içaram e que ainda não disseram nada!

Graciete disse...

Michael,
Não querendo ofender-te, mas a bandeiras foi coisa nossa, dos "FÓSSEIS"!
Fico contente por terem também percorrido a passadeira vermelha que trilhámos!

Graciete disse...

Adelaide,
Quanto às "Pastorinhas" sou testemunha da "Cerimónia da Bandeira" nos mastros do DCA, que lhes fizeram.
Elas chegaram ao lar e, em vez do carimbo da matrícula, foram carimbadas com este nome, logo!
Tó Canedo, Chico General, Pedro Tap, e outros, que não me recordo, talvez o Manelinho tenha assistido e participado, pegaram nas malas e foram içar o conteúdo de cada uma em seu mastro!
Vamos ver se a que cá anda se lembra!!!

Alberto Freitas disse...

O caloiro da casa do Prof. Gago da Camara era um ilutre conhecido do amigo Solipa, por isso de boa cepa, da Meda O seu nome era Aires, e se bem me lembro era o caloiro que maior bagagem trazia.Foi digno, embora se tenham perdido uns quantos bens pois o implacavel tempo dos Açores fez tambem a sua oferta para a festa.

Graciete disse...

Niger,
Sei que a corda era bem grande e que ia até á casa do Prof. Gago da Câmara, pelo que, mesmo sem querer, o caloiro tinha que bater à porta, para recuperar os bens, que a salvo, estavam dentro da casa do Gago da Câmara!

Adelaide disse...

As minhas malas, também foram para uma casa, mas do Alfredo Borba, que sempre com risinhos assistiu à retirada das mesmas, mas hei-de contar isso mais em promenor, não é Vouzela?

Graciete disse...

Adelaide e Dina,
E que tal se içassemos as Bandeiras dos nossos ilustes colegas que andam com a cabeça enfiada na areia?
Das meninas, já vi que só posso contar com vocês !
Dos meninos, talvez já possa contar com mais!

Manuel Loureiro disse...

Bom a chegada das pastorinhas só por si dá uma postagem, o leilão das cuecas e dos sutiãs feito pelo Chico, isso tem de ser contado pela Matilde que nos sofreu na pele.
Boa postagem Graciete que memórias que desertas.

Graciete disse...

Manel,
Lembro-me de todo o alvoroço que se criou com a chegada das "Pastorinhas" e dos personagens intervientes, mas, é como tu dizes, os pormenores deste evento devem estar mais presentes na memória da Matilde.

Adelaide disse...

Esta brincadeira de içar roupas e fazer leilões com as mesmas continuou ao longo dos anos. Lembro-me do dia em que chegaram 2 caloiros e dentro das malas ambos traziam botas caneleiras, e como é óbvio, nós trocámos uma a cada um. Acontece que um dos caloiros ficou vidrado com o viu nas primeiras horas de Terra Chã, assustou-se, desistiu e foi-se embora. O que ficou, ficou para sempre com um par de botas sem qualquer utilidade, já que cada uma tinha um nº diferente.

Graciete disse...

Adelaide,
O caloiro deve ter pensado que tinha ido cair no manicónio!
Enganou-se redondamente!

Adelaide disse...

Completamente! Mas assim é menos um a tentar entrar no Lar...

Graciete disse...

E estes também não nos interessam lá...

Matilde disse...

Eu queria era as fotos da chegada das pastorinhas (babtizadas pelo presidente) mas...não as encontro. Agora não houve bandeira nenhuma, nesse dia, depois do leilão foi muita coisa parar às árvores. Também houve uma passagem de modelos espectacular, lembro-me do Manaças com 1 vestido meu a correr no relvado ao lado do lar. Foi um dia inesquecível. Quem "pescou" a roupa não fomos nós caloiras, foram uns Engºs que resolveram ajudar.
Agora cairmos no lar, num sábado à tarde, foi o máximo para os que nos praxaram.

Matilde disse...

Também participei na das botas...acabou por ser bem chata mas quem sonharia que 1 caloiro acabado de chegar ia logo virar para trás?

Related Posts with Thumbnails