As pessoas hoje em dia, em Lisboa, quando se despedem umas das outras ficam meio atrapalhadas, não sabem como se desenvencilhar daquele momento e criam diálogos absurdos e sucessivos, repetidamente retorquidos, como se o acto de despedir fosse uma coisa complicada, pouco entendida. Então para que fique bem frisada a sua intenção caem na repetição de sinónimos para ver qual dos dois desiste primeiro. É vê-los nos cafés e pastelarias, ouvi-los ao telefone, na rua, à saída dos prédios, por todo o lado se pode observar esta nova forma de prolongar uma conversa terminada:
-Então vá, até logo.
-Até logo, depois eu dou notícias.
-Mas olhe se a notícia for conforme o que combinámos não deixe de telefonar. Ficamos assim combinadas, boa tarde.
-Está bem, vá lá! O seu telefone ainda é o mesmo?
-Sim ainda é o mesmo, boa tarde.
-Então vá, boa tarde, cumprimentos aos seus pais.
-Serão entregues obrigada, agora tenho mesmo que ir, já vou chegar atrasada.
-Boa tarde, prazer em vê-la. Mas olhe, mesmo assim passa por cá amanhã?
-Sim, sim, darei um jeitinho. Beijinhos até amanhã.
-Então vá! Beijinhos, até amanhã.
-Adeus dona Deolinda!
-Adeus menina, juízo!
-Ah sou muito ajuizada (risos), tchau!
-Tchau, beijinhos, cuidado com o degrau.
-Ah o degrau! Já no outro dia me ia aqui espalhando.
-Pois... Olhe que não seria a primeira, então vá!
-Então vá!
-Então vá!
-Beijinhos!
-Beijinhos!
-Quer que lhe feche o portão da rua?
-Não é preciso, deixe estar...
-Mas e o seu BOBI não foge para a estrada?
-Oh... esse desgraçado, salta o muro e dá-me cabo das roseiras.
-Ah que chatice... sempre admirei a as suas roseiras... agora vou, adeus
-Adeus menina!
-(Que velha chata, finalmente consegui livrar-me dela)
-Porra, queimou-se o refogado! Raios me partam... (Que menina oca, intrometida... vá lá para casa dela chatear a mãe dela)
-Dona Deolindaaaaa!.... Oláaaaa!...
-Atão? O que aconteceu, Menina?
Haja paciência!
Joaquim Marques