
Recordo-me de quando as recepções ao caloiro começaram a ser oficiais.
A festa fazia-se na cantina, como seria de esperar, e a sala era preparada e adornada ao pormenor.
Aguardávamos sempre com grande ansiedade este dia, uma vez que contava com a presença do Director do Departamento e também de muitos professores, que connosco se aliavam nesta ocasião, mesmo que os se distanciavam, no dia-a-dia, mais de nós.
A alegria deste evento era profundamente vivida e partilhada por todos. Bastava-nos saber que mais algum professor tinha confirmado a sua presença, para que a mesma ficasse francamente ampliada.
A expectativa que se criava, até à última hora, da sala esgotar a sua capacidade, a informação de que viriam muitas pessoas de Angra, os nomes, tudo era motivo de contentamento.
Para abrilhantar este evento, eram realizadas algumas representações revisteiras, inspiradas, sobretudo, nos aspectos menos positivos da nossa vivência académica, nos caloiros e em sketches direccionados para os professores.
Da parte dos alunos de Agrícola, o mentol do projecto era sempre o Quim Lopes. Para além da escrita do texto, cabia-lhe também a escolha dos intérpretes, a encenação, os ensaios, a interpretação, enfim, tudo o que gira em torno de uma peça.
Sei que não era fácil, na altura, encontrar actores e actrizes sem experiência!
Na assistência havia os convidados especiais, os professores, e a coragem para transpor esta constrangedora exposição, assustava!
O Quim sempre me convidou para estas actuações e eu, embora receosa, achava a iniciativa tão interessante que, ponha de lado este pormenor perturbador e aceitava sempre. Nesta festa, no ano de 1986, o cenário representa uma aula e lembro-me que o texto se desenvolvia em torno das inteligentes questões que eram levantadas pelos alunos. Eu, supostamente, encarnaria a personagem de uma cantora britânica de Pop, Samantha Fox, que, na altura, se encontrava no Top das vendas. Os alunos que me acompanham são o Diogo e o Emanuel.
E sei que, para representar cabalmente o meu papel, o Quim exigia que interpretasse algumas facetas mais atrevidas da cantora!
Bem, depois da peça ter saído de cena, a festa prosseguiu e sei que chegou o momento da música avançar. Havia luzes, …. tudo como numa discoteca.
Por falar em discoteca, éramos nós que ditávamos qual a que merecia o estatuto de “In”. E os outros frequentadores, que não os alunos, seguiam-nos.
Naquele momento, tínhamos feito um interregno no “Satiricon” e a eleita era a “Twins´s”.
E os GÉMEOS congratularam-nos com a sua presença na nossa festa. Era um intercâmbio, uma simbiose ou um parasitismo, o que entenderem, deveras interessante.
A dança já se tinha iniciado e estava tudo com a animação bem movimentada, a viver, intensamente, o momento.
Mas, eu não! Andava deveras preocupada, sem saber como me livrar da encomenda que me tinha sido entregue!
Não é que um dos gémeos resolveu investir toda a sua atenção em mim, e não me deixava ter um momento de sossego com os meus colegas!
Bem, logo pensei que o homem deveria estar a confundir a personagem da Samantha Fox com a minha pessoa, e depressa me apressei a ir a casa trocar de roupa.
Regressada, logo me deparei com a realidade. Afinal, ele não tinha confundido!
Se eu fugia para a pista, ele queria dançar comigo, se me sentava na mesa, lá vinha ele com bebidas, pelo que não sabia como estar em paz e com os meus colegas.
Estes certamente também andavam nas suas investidas!
E não havia quem me iluminasse, já que os meus planos não surtiam efeito.
Numa das muitas tentativas de ida à pista, um amigo (não aluno) namorado de uma colega nossa e que com ela dançava, disse-me que a situação se iria resolver e, largando a namorada, agarrou-me com força e comigo dançou como se estivéssemos em concurso de danças!
E resultou!
E como todas as nossas festas terminavam sempre na discoteca, lá fomos para a anteriormente citada.
Ao descer as escadas encarei logo com dita personagem, que eleva os olhos, juntamente com mais alguns membros do seu clube, para a escadaria.
Bem, continuei o meu percurso e efectuei os rituais habituais, próprios daquele espaço.
Desloquei-me ao bar e quando ia pagar a minha conta, o empregado depressa se apressou a anunciar que a mesma já se encontrava saldada.
Não consigo explicar o que senti!
Não sabia o que dizer ao empregado que, para mais, nem o conhecia!
Mas agradeci. Agora não sei se em nome do patrão, se ao empregado!
Se os sabia distinguir? Que remédio tive eu!
A partir daquela festa nunca mais os confundi.