Estava eu numa noite, de algumas noites calmas passadas no Convento, quando ouço alguém, em jeito de aflição, e insistentemente, anunciar uma Boa Nova, embora não perceptível no momento.
Assiste-se, de imediato, à saída de todas as freiras dos seus aposentos que, da meditação passaram a um grande alvoroço, e questionavam, reunidas, o acontecido! O homem que gerou esta enorme confusão, fez-se perceber e, finalmente, concluímos que havia chegado um BURRO, ao largo da Igreja. E lá fomos acudir aos suplícios do desgraçado homem que, em apuros, pedia auxílio.
Chegada ao local, bem perto da escadaria da Igreja, via-se um BURRO acompanhado de 3 pessoas que, na escuridão da noite, não se destacavam do animal.
E o homem, agoniado, sem saber o que fazer, apenas dizia que … vinha de BELÉM …, que o BURRO vinha de BELÉM, e … nada mais acrescentava!
E, quando se acalmou, explicou que tinham encontrado o BURRO, lá para os lados de BELÉM (Canada), e que se fizerem ao caminho. Não compreendi, na altura, qual o intuito de tal incursão, mas percebi, com grande clareza, que o traçado da viagem tinha sido bem delineado!
E, embora, um pouco combalidos com a caminhada que, pelo que me apercebi, não terá sido nada, mesmo nada fácil, qual travessia no deserto, sentia-se a alegria que expressavam por terem chegado finalmente ao destino, ou quase…!
O animal, coitado, estava exausto! Completamente esgotado de tão penosa andança!
E depois dos viajantes serem assistidos pelas freiras, nos tão necessitados primeiros cuidados, pude verificar que era a SAGRADA FAMÍLIA que tinha chegado!
Fiquei abismada com tão bem retratado QUADRO.
Não sei se foram bater a várias portas e se elas se fecharam! Desconheço, esta parte.
Lembro-me que não havia nenhuma estrela a destacar-se. Quem brilhava mais que as cintilantes ideias do Solipa, do Níger e do Menano?
O Solipa, era S. José, recordo-me bem, pois foi quem procurou albergaria e ajuda para o acontecimento. E, foi ele que bateu à porta do Convento e por lá entrou, a dar notícia do sucedido, numa ânsia de quem procura socorro.
Compreendi a sua aflição assim que vi o BURRO e a SAGRADA FÁMILIA. O menino tinha nascido pelo caminho e a sua mãe estava ainda transtornada e exausta de tão difícil parto, pois o bebé era deveras grande demais!
E embora não sendo pai da criança, o pobre homem acarretava esta responsabilidade.
Não me consigo recordar com exactidão, qual deles era o menino e qual era a sua progenitora. Mas, atrevo-me a aventar, e estou quase certa que, a esposa de S. José era o Níger. Que me corrijam se estiver enganada!
Pois não é que depressa se compôs do parto e quando se viu amparado, com os que entretanto vinham visitar o menino, deixou-o aos cuidados dos visitantes, tendo focado todas e as suas atenções no BURRO!
E o burro, como todos, negava-se a responder às ordens dadas. E os viajantes, distanciavam-se do bicho, alguns metros, e vinham a correr, tal como de fosse para executar um salto em comprimento, mas finalizando-o em cima do animal. E os visitantes também aderiram a esta modalidade. Lembro-me da Nanda também nas corridas para o burro. E o desgraçado do bicho chegou a ser montado, ao mesmo tempo, por 3 atletas!
E chegou o momento em que ele já abria as 4 patas para os lados, quase aproximando-se do chão.
Mas, a consciência começou a pesar e logo pensaram em dar guarida ao animal. E não havia local melhor que o Convento!
Iniciou-se então o cortejo, bem penoso e demorado! O burro, nem por nada queria andar, mas … lá chegou bem perto das portas do Convento. E houve quem abrisse a banda lateral da porta, que estava aferrolhada, fazendo com que a abertura facultasse a largura e a burrice do animal. Mas, ainda havias uns degraus até lá chegar. E o burro, já em declive, era empurrado, com todas as forças que os peregrinos podiam exercer, mas a tarefa afigurava-se cada vez mais árdua.
A noite já se ia prolongando pela madrugada, com os ânimos entusiasmados a exaltarem-se e as vozes iam subindo de tom!
O que se seguiu, já foi contado, via comentário, pela Helena Flor de Lima, que passo a citar:“ Tia Mary apareceu na janela de cima, a espreitar dizendo "Isto parece uma casa de gente doida".
Pois foi, tal e qual. Já não me recordo de alguns pormenores que aconteceram após este momento. Como é que eles se desenvencilharam do bicho?
Tenho a vaga ideia de que burro ainda andou na zona circundante alguns dias!
E foi assim que se passou mais uma noite, das muitas inesquecíveis, na Terra Chã!
Deixo agora os pormenores da “captura” do animal e da famosa viajem, e outros se me escaparam, para o Solipa e o Níger contarem que, certamente, darão uma preciosa postagem, ou duas!
22 comentários:
Excelente Graciete, quase devíamos compilar as histórias dos burros na terra chã, e olha que à muitas, infelizmente não possuo os dotes de oratória da nossa excelsa colega, nem tão pouco as ligações neurónicas se mantêm ao nível das suas e as falhas de memória acentuam-se. Contudo, recordo, ainda que mal, algumas historias de burros, como uma que penso será passada com o Bioucas, colega do tempo do Marques que estando a estudar na Terra Chã e na deslocação natalícia, recebe de oferta da sua avó dinheiro para comprar um burro para que não se desloque a pé para a universidade, algo que com mais pormenores poderá ser melhor contado por outros, recordo ainda outra vez, e já no ano do Pedro Conde, em que enfiaram um burro no antigo lar masculino da terra chã, na ala velha da antiga morgue, onde depois de ser embebedado o burro com aguardente de medronho do Henrique Rosa e vestido com a toalha amarelo torrado de uma mesa redonda que por lá havia, acabou deitado na cama do Paulo Rebelo com o dito.
Que me corrijam, que me desenganem, que isso sirva para se sentirem estimulados a participar e dessa forma completem estas e outras historias.
Manel,
É verdade! Lembro-me de ser contada esta última história.
Não há ninguém que a conte? Os que andavam por lá, ou outros que a saibam? É como tu dizes há tantas histórias.
Conta-a tu, Manel. Qual jeito, qual coisa! É preciso é contar, porque depois vão desencadeando outras que estavam mais esquecidas.
Lembro-me de contarem, os mais antigos que eu, não muito, de haver um colega nosso, penso que não o conheci, que escrevia um telegrama a dizer: "Saudades para aí dinheiro para aqui", ou algo muito parecido.
ehehehe Manel
essa historia é hilariante pa!!!!
ehehehe
Graciete,
Obrigado!
Que posso dizer mais?!
Obrigado! Muito Obrigado!
Joaquim Marques
Presidente,
Fico grata por teres gostado.
Beijinhos
Caro colega Joaquim Marques,
É com orgulho e saudade que visito o blog e dou os parabéns a esta excelente iniciativa.
Entrei na Terra-Chã no ano lectivo 1986/87 e saí em 91/92; e como o mês de Outubro é especial para muitos, para mim também o é pois faz hoje 22 anos que aterrei pela 1ª vez na Terceira (juntamente com o Paulo Carvalho, Tó Rino e Sandra Romeliotes ??), e quis o destino que fosse ficando por cá.
O meu contacto é o seguinte:
conceicao.filipe@mail.telepac.pt.
Ainda não sei fazer postagens, mas prometo que vou que aprender, e vou também contar algumas histórias devidamente documentadas com imagens.
Um abraço a todos, em especial aos pioneiros deste blog.
São Filipe.
Graciete, adorei a tua história do burro e respondo-te com uma postagem do mesmo assunto...
beijinhos
São, parece que foi ontem, então relembrando e vivendo estas hitórias, o passado torna-se cada vez mais presente! Foi bom o que vivemos mas ainda é melhor saber que o aproveitámos! Bemvinda! Agora falta o Paulo e os restantes marotos que só espreitam!
Teresa,
Estou à espera que S.José e a sua esposa se manifestam!
Ao menos estes...
Beijinhos
Graciete...
Devem estar atrapalhados com o menino... Deve andar a dar-lhes água pela barba! :-)
Graciete sempre a mesma esperando que todos façam o trabalho de casa como ela. Penso que vais ter que esperar mais 25 anos para esse milagre acontecer, afinal a nota mais alta era a tua:).
Não me recordo bem desse episódio e nao posso afirmar se seria eu no convento, o solipa é que pode confirmar pois como sabes o Menano já não está entre nós, com grande pesar meu. Mas, Tambem por isso, reviver os momentos em que estivemos juntos nos Açores é a melhor homenagem que lhe podemos prestar.
Graciete!
Esta história do burro aconteceu com a Nanda, o Rafael e o Solipa, o Niger já tinha ido embora transferido para Vila Real.
Helena Flor de Lima
Niger,
Enviei um SMS ao Solipa a perguntar se eram os 3 protagonistas e disse que sim! Afinal, pelos vistos, devia estar andar tb com "carga etílica", como ele diz.
Niger, já tinha esta história escrita e no fim fazia a minha nota, só para o Menano.
Mas como o Sr. Presidente fez anos, achei que deveria tirar a mesma, porque o dia era de festa.
E fiz-te passar por "esposa"...por isso mesmo, porque felizmente continuas entre nós.
O Menano será recordado sempre com saudade e hei-de colocar a nota que tinha escrito, assim que for oportuno.
Obrigado.
Helena,
O Rafael estava no Convento com a Nanda. Apareceram depois do burro já lá estar.
Quem trouxe o burro, foi o Solipa e... ele há-de esclarecer.
Graciete!
Nós estavamos em casa e eles os três vieram de burro do bairro da Terra Chã (eram 2 e tal da manhã), estavamos a dormir e acordamos com os três a fazer barulho, quando me apercebi a porta de casa estava aberta, porque a Nanda vivia connosco e tinha a Chave de casa, eles estavam a tentar por o burro no corredor, o burro chegou a por as duas patas da frente, entretanto apareceu D. Lurdes, depois não sei o que fizeram ao burro.....
Estás a ficar com esclorose!.....
Helena Flor de Lima
Helena Flor de Lima (desconhecida como antiga aluna!)
"Estás-me cegando", como dissem popularmente aqui por S. Miguel.
Que importa se foi o Niger ou o Rafael! Então o Rafael era a "esposa".
Que importa se nos foram acordar, ou não!
Andaram aos saltos nele e tudo o resto..., está certo! Sabes porquê?
EU estive cá fora e lembro-me disto assim!
TU, ou não saiste do Convento ou escapaste-te lá para dentro!
O burro foi apanhado na canada de belém junto aos pré-fabricados. O Rafael, o Menano e eu é que levamos o burro para ao pé da igreja.Acho que havia mais alguém que não me lembra (que se acuse). A Nanda aparece porque eu, em cima do burro, toquei-lhe à janela e como ela quis andar no burro veio cá para fora e quando se montou no burro, o Menano deu-lhe uma palmada nos guizos (do burro) e ele alçou a pata e deu-lhe um coice de raspão e arranca mas a pouca velocidade porque já estava cansado e foi quando tentámos mete-lo dentro do convento.
Espero ter completado a postagem da Graciete.
Carlos,
Claro que complestaste! Os teus ilustres conhecimentos nesta matéria e muitas outras, são imprescidíveis para avivar a memória. Eu não disse que eras S. José!
Manda daí uma postagem para animar a malta!
Beijinhos
Helena e Graciete entendam-se! Já deu para perceber mais ou menos quem era a sagrada Família e que o Burro veio mesmo de Belém, por isso Helena deves ter sido o Anjo Gabriel e a Graciete a prima Isabel, ou será que me enganei na passagem biblica!
Graciete, esta história está o máximo! Se já estivessemos em Dezembro, diria que era um verdadeiro postal de Natal!!
Luísa,
Não é que parece que eram 4!
Como os que por aqui andam já não se lembram deste quarto elemento, acrescento a história, dizendo que já vinham prevenidos, para o Presépio, não tivessem eles visitas, e que traziam uma ovelha, ao que parece "ranhosa"!
Adelaide,
Peço desculpa, mas não tinha visto o teu comentário.
Não é que acertaste em cheio!
Percebeste muito bem a história.
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